9 de mar. de 2010

O CACETE DA CASSETA

A guerra acabou estourando contra o Paraguai, mas já muito antes as principais ameaças ao Brasil eram os vizinhos de baixo, pois os de cima nem eram loucos de se aventurar pelas intransponíveis imensidões amazônicas e os próprios paraguaios foram bastante prejudicados pelas fronteiras pantaneiras.

Já pelos pampas e coxilhas era moleza. Virava e mexia lá vinham aqueles bandos de castelhanos aporrinhar os gaúchos abandonados à sorte. Em verdade, gaúchos eram todos: inclusive os cis e transplatinos (para quem não lembra: cisplatinos seriam hoje os uruguaios de aquém do Rio da Prata e os transplatinos os argentinos, de além do Prata).Diferiam um pouco no idioma, ainda que misturando-se num portunhol e com os mesmos costumes: pilchados em bombachas, ponchos, botas e chiripá, sem esquecer o lenço no pescoço. Diriam depois que o lenço era para esconder o papo, conferindo ao gaúcho fama de mentiroso pelo orgulho tipicamente guerreiro de contar vantagens até mesmo sobre as derrotas.

Pois não fosse esse orgulho, os castelhanos, também mestiços de índios, árabes e europeus, teriam alcançado a corte que, do Rio de Janeiro, nunca deu atenção aos tantos pedidos de socorro e ajuda para enfrentar as maiores potências bélicas da época, entre os países vizinhos do Brasil. O império, acomodado entre as litorâneas belezas da baía da Guanabara, preocupava-se tão somente com os metais preciosos de Minas Gerais, o café de São Paulo e a cana de açúcar do nordeste que financiavam a sobrevivência da coroa através da exportação.

Sem dúvida absurdo, o movimento separatista que ainda hoje anima alguns gaúchos iniciou-se nesse histórico abandono que provocou a republicana Guerra dos Farrapos. Uma amiga gaúcha não se conforma por ainda hoje seu estado comemorar com orgulho esse evento em que seus conterrâneos foram derrotados.

Mas é exatamente esse orgulho aguerido que protegeu aquele Império que só mandava seus Duques e Generais para colher os louros de batalhas já ganhas por gaúchos que lutavam sem armamentos e formação militar.

Quanto ao separatismo é uma evidente bobagem que levaria o Rio Grande do Sul à mesma difícil situação em que vive hoje o Uruguai, um pequeno país e mercado que não desperta o interesse dos exportadores internacionais e tudo o que necessita e que venha de outros continentes, tem de comprar do Brasil ou da Argentina, encarecendo manufaturas, tecnologias e matérias prima.

No entanto, hoje há outras razões que incentivam esse sentimento separatista nos gaúchos, apesar das evidências de sua impraticabilidade para o próprio Rio Grande do Sul e, sem dúvida, a Rede Globo contribui muito através do programa Casseta e Planeta.

Não é normal se rir da mesma piada duas vezes e o programa que deveria ser de humor há muito se tornou aborrecido, chato, cacete, pois continua contando a mesma piada desde suas primeiras edições.
Sim, sim, tá bom! O brasileiro é assim mesmo e todo mundo gosta de fazer piada da preguiça do baiano, da desconfiança do mineiro, das neuras do paulista, da mania de esperteza do carioca que com o tempo substituiu o gaúcho na fama de garganteiro e, claro, com a antiga mania do gaúcho em se afirmar como macho.

Claro, não há melhor gozação a se fazer com quem alardeia machice do que apontar nessa preocupação um motivo inverso escondido, mas aquele gaúcho de campanha, aquele xiru velho que saia campeando brasis afora roncando machezas, já é coisa meio rara e até fora de moda. Além do que, um programa de humor tem de renovar o mote da piada para não perder a graça.

Não faz mal que gozem de gaúchos ou do povo de qualquer outro estado, mas podiam ser mais criativos, até porque certamente há outros motivos para se fazer piadas dos gaudérios, pois aquela brabeza toda dos tempos dos Farrapos já é coisa passada há muito tempo.

Será que a tão insistente e regionalizada homofobia da turma da Casseta é uma tentativa de desvalorizar os homens daquele estado por ciúme e inveja da afamada beleza de suas mulheres? Ou também se poderá concluir dessa tão acirrada insistência, algum inverso motivo escondido?

Seja qual for o cacete que interesse ao pessoal da Casseta nos gaúchos, o programa perdeu o interesse porque há muito que já ficou cacete mesmo.



Por Raul Longo

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